domingo, 11 de julho de 2010

Da Europa Para O Mundo: Espanha Amarelo Ouro

Confesso faltarem-me palavras para descrever essa final de Copa do Mundo, vencida pela Espanha com um gol (contestável) marcado aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação.

É bem possível que as ponderações aqui postas possam ser levadas pelo emocional de alguém que, nesse momento, veste uma camisa laranja com as letras "KNVB" bordadas abaixo da figura de um leão.

Apesar da má atuação do árbitro inglês Howard Webb, o título foi para ótimas mãos. A seleção espanhola representou o que há de melhor no futebol atual, com um toque de bola refinado e a busca incessante por chegar ao ataque administrando a posse com paciência e lucidez.

É a primeira vez na história das Copas que uma equipe campeã do mundo inicia sua campanha com uma derrota na estréia. Naquela vitória suíça por 1a0, muitos comentaristas oportunistas - mostrando desconhecimento futebolista - cantarolavam um apocalíptico cenário para os comandados de Vicente Del Bosque. Um deles foi Walter Casagrande Júnior, que declarou ter "eterna desconfiança na Espanha", dizendo que a seleção sofria de "fragilidade emocional" (veja a postagem sobre o jogo). Curiosamente, o discurso pós-final foi outro. O meu continua o mesmo: a Espanha fez uma boa Copa do primeiro ao último minuto de bola rolando, sendo merecedora do título.

Os holandeses têm todos os motivos para saírem da África do Sul de cabeça erguida. Foram 8 vitórias em 8 jogos nas Eliminatórias, 6 vitórias em 7 jogos na Copa, com a derrota solitária acontecendo pra lá dos 115 minutos de uma partida equilibrada, onde teve chance de vencer e se tornar campeã em campanha 100%. O gesto pós-premiação de formar um corredor e cumprimentar cada membro da delegação espanhola que por ali passava já tornou-se automaticamente épico.

Pronto, acho que esses parágrafos acima deixaram o blogueiro mais relaxado para descrever os fatos do jogo. Antes de mais nada, parabéns Espanha e Holanda! Johann Cruyff, um dos destaques do "Carrossel Holandês" de 1974, implementou a filosofia do "Futebol Total" no Barcelona - time-base da seleção espanhola - e, antes da final ser jogada, declarou que "todo mundo é um vencedor" (veja matéria original). Estou de total acordo. Apitos à parte, o futebol saiu ganhando com o desenrolar da Copa do Mundo 2010.

Fotos-posadas pré-jogo: as duas melhores seleções na final, para deleite dos amantes do futebol.

Equipes jogam primeiro tempo atacando mais o corpo dos adversários do que o gol

A primeira falta da partida ocorreu com 50 segundos, numa entrada de Robin van Persie em Sergio Busquets. E não seria um lance isolado: antes do apito de intervalo, foram mostrados cartões amarelos para 5 jogadores (aos 14' para van Persie por carrinho em Joan Capdevila; aos 16' para Carles Puyol por entrada no tornozelo de Arjen Robben; aos 21' para Mark van Bommel por carrinho que derrubou Andrés Iniesta; aos 22' para Sergio Ramos após ir no corpo de Dirk Kuyt; e aos 27' para Nigel De Jong, por entrada horrorosa com a sola da chuteira no peito de Xabier Alonso). Fora tudo isso, houve também jogo de futebol.

Aos 4 minutos, Xavier Hernández levanta em lance de bola parada (por que será?) pelo lado direito, Ramos cabeceia e Maarten Stekelenburg faz bela defesa ao espalmar no canto direito. Na seqüência, Stekelenburg e Kuyt foram fechar o ângulo de Gerard Piqué e impedir uma nova finalização.

3 minutos depois, Xabi Alonso passa rasteiro atravessando o campo de defesa, Busquets não pega, Kuyt intercepta e chuta rasteiro para defesa de Iker Casillas.

Com 8 minutos, Xavi Hernández tenta lançar David Villa, mas Stekelenburg sai para recolher. Aos 10', Villa recebe na frente, passa para Iniesta, que abre na direita com Ramos: o lateral se livra de Kuyt, bate cruzado a 14 metros do gol e John Heitinga coloca o pé esquerdo mandando para escanteio. Na cobrança, Xavi manda curto para Iniesta, recebe de volta, passa mais atrás para Alonso e o camisa 14 cruza: a bola chega até o lado esquerdo para Villa, que chuta de primeira e manda na rede pelo lado de fora.

Na marca de 17 minutos, cobrando a já mencionada falta sofrida por Robben, Wesley Sneijder manda direto e Casillas consegue encaixar. 2 minutos depois, Robben avança pela direita, passa por Capdevila mas Alonso dá a cobertura e manda para escanteio - a marcação no camisa 11 holandês era dupla (quando não tripla).

O jogo teve um breve momento pingue-pongue aos 22 minutos: Casillas tentou ligar contra-ataque com Villa e a bola foi até Stekelenburg. O goleiro holandês recolocou em jogo e a Jabulani (ou Jobolani, pois a bola da final teve nome dado em homenagem à cidade de Johannesburgo) atravessou a linha final no extremo oposto do gramado do Soccer City, voltando para a posse do camisa 1 espanhol.

Com 33', um lance inusitado: a seleção holandesa ia devolvendo a posse para a Espanha numa atitude de "fair play" e o quique da bola surpreendeu Casillas, que deu um tapa para escanteio. Na cobrança, van Persie rolou para o goleiro e o jogo seguiu.

3 minutos depois, Robben faz fila pela direita, atraindo marcação de três espanhóis. Sneijder pega a sobra do desarme parcial, avança e ganha escanteio. Na cobrança, a bola desvia e chega na esquerda até Joris Mathijsen, que tenta a finalização de primeira mas acaba furando. No minuto posterior, Pedro Rodríguez recebe pouco a frente do círculo central, avança e chuta à esquerda.

Aos 42', Sneijder comete falta ao deixar a sola em Busquets: Webb apitou e dialogou com o camisa 10. Na cobrança, Alonso tentou chute direto mas não conseguiu colocar o efeito que desejava e a bola saiu à direita.

Aos 44', a Espanha tentava emplacar um contra-ataque com enfiada para o flanco direito e Giovanni van Bronckhorst fez bela interceptação, recolocando a Holanda no ataque. Mas van Persie não conseguiu escapar da marcação e Iniesta fez a proteção para ganhar tiro-de-meta. No minuto seguinte, Robben recebe passe curto de van Persie na quina direita da grande área, ganha espaço com corte curto para o centro, chuta rasteiro e Casillas vai no canto esquerdo para espalmar.

Equipes têm chances claras de gol, mas goleiros atuam brilhantemente

Em escanteio aos 2 minutos pelo lado direito, Xavi cruza, Puyol cabeceia saltando sobre Heitinga e a bola chega na esquerda em Capdevila, que, a exemplo de Mathijsen na primeira etapa, fura no movimento da finalização.

Aos 3 minutos, Iniesta passa para Alonso na esquerda, van Bommel dá o tranco e ambos caem na área: tiro-de-meta marcado. No minuto seguinte, Gregory van der Wiel desce pela direita, centra a jogada com passe rasteiro, Casillas toca na bola mas é marcado tiro-de-meta. Na marca de 6 minutos, Kuyt passa para Robben, que corta para o centro e chuta para nova defesa de Casillas no canto esquerdo.

Com 8 minutos, Ramos tenta fazer um-dois com Pedro mas é derrubado por van Bronckhorst antes de receber de volta: falta e cartão amarelo para o capitão. Na cobrança, a 27 metros, Xavi manda na rede externa e Stekelenburg acompanha de perto.

Aos 10 minutos, novo cartão amarelo para jogadores holandeses: Villa é acionado na esquerda e leva rapa de Heitinga após tocar de lado. 2 minutos depois, Sneijder recebe e é atingido por Iniesta na altura do joelho - falta marcada mas nenhum cartão mostrado. Na cobrança, Sneijder põe na área e Heitinga cabeceia cruzado à esquerda.

Na marca de 14 minutos acontece a primeira substituição da partida: Pedro por Jesús Navas. No minuto posterior, Kuyt cruza, van Persie sobe se antecipando a Puyol e cabeceia fora. Mais um minuto passado e nova chance holandesa. E não era uma chance qualquer, mas sim a mais clara da partida: Sneijder dá enfiada de bola precisa para Robben, que avança e chuta no contrapé de Casillas, mas o goleiro, situado na marca do pênalti para tentar fechar o ângulo, consegue grande defesa com a chuteira e a bola passa perto da trave direita.

Com 20', van Persie recebe, finta Capdevila em velocidade e recebe falta. Amarelo para o lateral.

Aos 24 minutos, Navas recebe de Xavi na direita, cruza rasteiro, Heitinga não afasta, a bola chega em Villa, que chuta e a defesa holandesa consegue bloqueio providencial.

No minuto seguinte, primeira substituição de Bert van Marwijk: Kuyt por Eljero Elia.

Na marca de 28 minutos, Iniesta tenta passe pelo centro, van Bronckhorst intercepta e Webb dá falta de Heitinga. Villa cobra mandando cruzado, alto, à esquerda.

Com 30 minutos, Navas recebe de Alonso, cruza pra esquerda e Villa manda de primeira, isolando. No minuto seguinte, Villa tabela com Xavi, chuta e van der Wiel bloqueia dando carrinho. No escanteio, Xavi levanta e Ramos sobe livre, cabeceando por cima do travessão.

Aos 32', Iniesta agride van Bommel sem bola. O árbitro vê, marca falta, mas nega-se a dar qualquer cartão.

3 minutos depois, Iniesta entra na área se livrando de Heitinga e é desarmado por Sneijder em carrinho limpo.

Na marca de 37 minutos, Robben ganha de Puyol na corrida após escorada de cabeça de van Persie, o zagueiro puxa o atacante, Robben segue a arrancada tentando fintar Casillas mas o goleiro fica com a bola. "Se ele cai o juíz dá pênalti", muitos diriam. Provavelmente. O fato é que Robben foi reclamar com Webb e ainda recebeu cartão amarelo.

Com 41 minutos, troca interessante na seleção espanhola: Alonso por Francesc Fàbregas.

A Espanha tinha 56% da posse de bola, mas o momento holandês era melhor. Aos 43', Sneijder tenta ligar contra-ataque com Robben dando passe esticado pro lado direito, o camisa 11 corre, chega na bola, mas não evita a saída pela lateral. Aos 47 minutos, Sneijder tem a bola em contra-ataque e decide chutar de longe, mandando à direita. Pela primeira vez na Copa, Holanda e Espanha iam disputar uma prorrogação.

Espanhóis criam chances e van Marwijk torna a Holanda mais ofensiva, "repetindo" substituição da semifinal

Aos 2 minutos, Cesc Fàbregas tabela com Iniesta, a bola sobra com Xavi e sai em escanteio - os espanhóis pedem pênalti supostamente cometido por Heitinga.

Com 4 minutos, Iniesta enfia a bola para Fàbregas, que fica cara-a-cara com o goleiro: Stekelenburg se posiciona bem e defende a finalização com a canela.

Na marca de 5 minutos a Holanda cobra escanteio pela direita e Mathijsen sobe cabeceando perto do travessão. 3 minutos depois, Fàbregas passa para Iniesta, que avança e é desarmado por van Bronckhorst.

Aos 9 minutos, Bert van Marwijk troca De Jong por Rafael van der Vaart, em mexida similar a realizada no intervalo da semifinal (naquela oportunidade, Demy De Zeeuw, substituto do suspenso De Jong, deu lugar ao camisa 23).

Com 10 minutos, Navas recebe na direita, chuta e van Bronckhorst bloqueia - a bola vai no contrapé de Stekelenburg e sai ao lado da trave esquerda, na rede externa. 3 minutos depois, Fàbregas carrega desde a intermediária e chuta da meia-lua, à esquerda.

Na marca de 14', substituição na Holanda daquelas que somente se justificam por questões físicas: sai o capitão van Bronckhorst e entra o surinamês Edson Braafheid, estreando no Mundial. A braçadeira passa para van der Vaart, que entrara há 6 minutos.

Torres entra no intervalo e, iluminado, participa do xeque-mate

A última troca do jogo colocava em campo Fernando Torres, que fazia uma Copa discreta, no lugar de David Villa, um dos artilheiros da competição e decisivo em diversas partidas.

Com 1 minuto já era explícito que Braafheid sentia a pressão do contexto em que estreava: bola cruzada a partir da esquerda e o camisa 15 dá as costas pra redonda para procurar a quem marcar. Por sorte, a bola vai na parte de trás da cabeça dele e é recolhida por Stekelenburg, num recuo absolutamente involuntário.

Aos 2 minutos, Sneijder passa na esquerda com Elia, que encara a marcação de Ramos mas sai com a bola antes de efetuar o cruzamento.

Na marca de 3 minutos, Iniesta tabela com Xavi, parte para receber e ir em direção ao gol mas é seguro por Heitinga, que recebe o segundo amarelo e é expulso.

Na final mais recheada de cartões na história das Copas, Heitinga é o único expulso.

Com 5', Iniesta recebe na esquerda, van der Wiel se aproxima e o camisa 6 aproveita para ir ao gramado. Webb vai na dele e mostra cartão amarelo para o lateral. No levantamento originado na bola parada, Stekelenburg salta e afasta.

Aos 7', Sneijder passa para Robben que, impedido, dá seqüência ao lance. Espanhóis pedem amarelo (e consqüente expulsão) mas Webb opta por dialogar com o camisa 11, ao som das vuvuzelas.

Na marca de 9', Sneijder cobra falta direto pro gol, a bola bate nas costas de Fàbregas e sai à direita do gol. A arbitragem marca, sabe-se lá como, tiro-de-meta para a Espanha. Astigmatismo? Miopia? Cegueira? Melhor nem especular...

No minuto seguinte, Torres tenta inversão para Iniesta, que receberia em posição duvidosa: Mathijsen corta parcialmente e Fàbregas passa para Iniesta, que chuta com força, cruzado, à meia-altura, uma bola que ainda foi tocada por Stekelenburg antes de ir pra rede, no canto direito. Mathijsen, revoltado, reclamou com árbitro e auxiliar. No que deu? O 8º holandês a receber cartão amarelo. Por tirar a camisa na comemoração do gol histórico, Iniesta recebeu o quarto cartão espanhol do jogo.

Iniesta vibra muito com o gol que será lembrado por muitas gerações.

Aos 12', na saída de bola pós-gol, Sneijder tentou do meio-campo e mandou à direita. A Holanda se mandou, em desespero, ao campo de ataque. Mas o abafa não teve qualquer finalização e o apito final coroou essa memorável geração espanhola, ratificando para o planeta o que todos que assistiram à Eurocopa já sabiam. E assim caiu uma invencibilidade de 25 jogos.

Casillas recebe o troféu das mãos dos presidentes da FIFA e da África do Sul: camisa já com a estrela bordada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário