sábado, 19 de agosto de 2017

Manchester United: Eficiente Mas Ordinário

Ao ler a escalação e observar a distribuição posicional dos jogadores do Manchester United para o jogo com o Swansea City, em Gales, criei imediatamente a expectativa de assistir uma grande partida da equipe comandada por José Mourinho. Afinal, um time com Valencia na lateral-direita, além de Matic, Pogba, Mata e Mkhitaryan no meio precisaria de mais o quê? Um exímio centroavante como Lukaku? Resposta: precisaria de um treinador pra fazer esse time render.
Lukaku comemora e United goleia novamente. Imagem extraída de Stepzan.com

Não se iludam com o placar de 4a0. Enganoso é pouco para descrever este resultado com base no que aconteceu de fato e de direito no decorrer da partida no Liberty Stadium. A inauguração na contagem deu-se aos quarenta e quatro minutos no primeiro tempo, em lance de bola parada (gol de Bailly). Só que antes disso, por volta dos trinta de jogo, Paul Pogba deveria ter sido expulso de campo - mas o árbitro Jonathan Moss não teve coragem nem juízo para aplicar o segundo cartão amarelo ao segundo jogador mais caro da história do futebol mundial.

E lá ia o jogo no segundo tempo. O Swansea firme na defesa. O United previsível com a posse de bola. O jogo de baixa qualidade. Talvez fosse um entretenimento menos empolgante do que uma partida de "pinball": pelo menos nessa modalidade famosa nos fliperamas, o objetivo é de fato jogar a esfera pra cima.

Até os trinta e quatro, persistia o um a zero. Mais persistente que isso era a escassez criativa, a falta de jogadas mais elaboradas, a ausência de uma atuação condizente a um elenco tão caro quanto esse que tem sede em Old Trafford. Até que, não mais que de repente, abriu-se um latifúndio no gramado galês. Por ele, penetraram Lukaku (esbanjando seu habitual oportunismo), Pogba (que nem era para estar em campo, né, juizão?) e Martial (que entrara no lugar de Rashford e não precisou de dez minutos para marcar).

Mais um 4a0 para o Manchester United, que aplicara esta mesma goleada na estréia diante do West Ham. Mas não se engane: a julgar pela partida com o Swansea, não há razões para empolgações. É, sem dúvidas, um time competitivo. Porém, exigir mera competitividade de um plantel desse nível é menosprezar a capacidade do futebol ser um esporte que pode ser bem jogado.

sábado, 12 de agosto de 2017

Figueirense E Goiás: Mais Pra Lá Do Que Pra Cá

Figueirense e Goiás são dois clubes que nos acostumamos a ver na Série A. E esse costume causa estranheza quando olhamos para eles disputando um jogo na Segunda Divisão. Pior que isso: ambas as equipes começam o segundo turno com grandes ameaças de rebaixamento.

A partida entre eles, hoje, em Florianópolis, foi mais brigada do que jogada. Dois conjuntos determinados a ganhar as disputas territoriais, mas com escassas tramas de jogadas ofensivas. O lateral-esquerdo Carlinhos era figura bastante acionada pelo flanco esquerdo esmeraldino, dando bastante canseira na última linha de defesa do Figueira. Mas a falta de precisão nas finalizações mantinha o zero a zero. Pelo menos até os doze no segundo tempo, quando Carlos Eduardo recebeu ótimo passe de Victor Bolt e não desperdiçou, abrindo a contagem para os visitantes.

Em desvantagem por um gol, a equipe da casa lançou-se com menos cerimônias ao ataque. Chegava, cercava, incomodava. Mas faltava algo mais para transformar as investidas em empate. Deixou de faltar quando o goleiro Marcelo Rangel, imprudente, cometeu pênalti. José Eduardo Bischofe de Almeida, vulgo Zé Love, converteu cobrando no canto direito.

Daí em diante, o Figueirense assumiu o controle das ações como jamais antes. E teve toda a pinta de que viraria o jogo. Só que esbarrou em pelo menos duas defesas difíceis de Marcelo Rangel, o que deve tê-lo redimido do lance em que cometera a penalidade. Isso tudo acabou decretando o 1a1, único empate nessa rodada. Agora a Série B segue com dois clubes de investimento bastante acima da média da competição tentando sair da parte de baixo da tabela de classificação: o Figueirense é 18º (posição de descenso) e o Goiás encontra-se em 15º, duas posições e um ponto acima da zona indesejável. Certeza de que muito trabalho deverá ser feito tanto por Argel Fucks, no Goiás, quanto por Mílton Cruz, que fez sua estréia no Figueirense exatamente nessa partida. Isso se as respectivas diretorias permitirem, é claro...

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Um Sonho Que Vem Da Alma

Uma das discussões mais cativantes e desafiadoras a respeito da existência (animal em geral e humana em particular) é sobre o conceito de alma. Fato ou suposição? São muitas interpretações dentro e fora do âmbito religioso. Muitas crenças. Muitos achismos. Muitas sensações. Muitas percepções. Muitas convicções. Há quem veja a alma do Outro num olhar. Há quem sinta a alma do Próximo num abraço. Há quem capte a alma alheia numa conversa.

No futebol, um jogador pode ser criticado por errar passes simples. Vacilar em finalizações. Posicionar-se mal. Mas se esse mesmo jogador "deixa a alma em campo", a torcida o respeita. Por vezes, chega até a idolatrá-lo. O Botafogo de Jair Ventura é um time sem grandes craques. Mas é um time com alma. Pode o botafoguense reclamar de diversos aspectos do time alvinegro, mas jamais da entrega, da dedicação, da honra à camisa gloriosa. Da alma.

Hoje, diante do Nacional, pela Libertadores, ficou escancarada a alma que habita cada atleta da equipe. O espírito coletivo dos jogadores casou com a energia da torcida que lotou as arquibancadas no estádio Nílton Santos. Aliás, como não falar de alma quando o campo de jogo carrega o nome do mais lendário lateral-esquerdo de todos os tempos?

Foram dois gols em cinco minutos. Foi uma comunhão durante o jogo inteiro. Foi uma lição. Fato ou suposição? Creio que esse Botafogo, mais que qualquer outro clube, mereça essa Libertadores. De corpo e alma.
Jogadores, torcedores, ídolos lembrados na faixa... Uma atmosfera perfeita no Rio de Janeiro. Foto: Vítor Silva / SS Press / Botafogo.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

222 Milhões De Neymares

Um dos maiores talentos no futebol atual e forte concorrente a melhor jogador do mundo no futuro, Neymar conseguiu todos os holofotes nesta semana por uma razão improvável: uma transferência para fora do Barcelona.

O elenco barcelonista pediu pela permanência do brasileiro, que representa a terceira letra (mas não menos importante) no excepcional trio MSN. Mas, após um silêncio sepulcral e até inconveniente, ele anunciou a saída do clube catalão.

Havia um entendimento quase que automático apontando Neymar como o sucessor natural de Lionel Messi no Barcelona. Mas no meio do caminho havia uma tentação. Tentação essa que considero estritamente financeira e nada, repito, nada esportiva. Das finanças de Neymar cuida o xará paterno. Cuida com tanto afinco às cédulas que a troca do Santos pelo Barça virou literalmente um caso de polícia. Confesso que não sei quem é mais mercenário: se o irmão do Ronaldinho ou se o pai do Neymar. Mas não quero entrar nessa discussão entre ex-craques do Barcelona. Vamos nos ater a esta mudança do ex-santista para Paris.

Um ano depois de Pogba ser o primeiro jogador na história do futebol a ser negociado acima dos 100 milhões de euros, Neymar é negociado acima dos 200 milhões de euros. Mais precisamente, 222 milhões, o valor da multa rescisória. Um negócio que, incluindo impostos e pagamentos diversos ao jogador e seu pai-empresário, passa batido pelo um bilhão de reais. Um negócio que não é da China, mas do Catar. E que coloca em dúvida o jamais suficientemente bem explicado "fair play financeiro".

Fato é que Neymar chega ao Paris Saint-Germain com a responsabilidade de liderar o time da capital francesa ao título da Liga dos Campeões da Europa. Sim, é esse troféu que o clube e seus investidores procuram. Se acostumaram a vencer os torneios domésticos e a meta é o continente. Uma meta até modesta dado o orçamento galáctico do clube.

Mas então, Neymar fez bem em partir para o PSG? Diria que Neymar trocou uma história que o eternizaria por uma aventura que o enriquecerá. Não que ele já não fosse rico. Mas muito se torna pouco quando a ganância é grande.

Com todo respeito ao Mônaco, ao Olympique de Marselha, ao Lyon e a outros rivais, mas o Campeonato Francês não oferece a Neymar os mesmos desafios da Liga Espanhola. Tudo bem, tanto PSG quanto Barça são (muito) mais fortes que a (grande) maioria dos oponentes em seus países. Mas a Espanha está facilmente pelo menos um nível acima da França em sua principal divisão de clubes. E o Barcelona, como instituição, tem/tinha muito mais a oferecer ao jogador/pessoa Neymar do que os investidores catares poderão/quererão fazê-lo. Trocou-se filosofia por regalia.

Neymar e, principalmente, seu pai, não querem saber disso. O PSG oferecerá uma fortuna e um protagonismo que dificilmente seriam obtidos simultânea e imediatamente em qualquer outro lugar no mundo.

08.03.2017: noite inesquecível. Arquivo pessoal.
Particularmente, lamento a saída de Neymar. Tive o prazer e o privilégio de assistir o histórico jogo entre Barcelona e PSG no Camp Nou, em oito de março deste ano. Partida memorável por vários elementos e, esportivamente, uma das maiores viradas de qualquer modalidade. O 4a0 que o PSG obteve na ida gerou sentenças de "já era". Na volta, o Barça, com grande atuação de Neymar, alcançou 3a0. E o gol único do PSG no segundo tempo, retomou o "já era". Mas era possível. E o 6a1 imortalizou aquela gostosa noite na Catalunha. Lembro que, na saída do estádio, cheguei a puxar um "uh, tá maneiro, o Neymar é brasileiro". Por irônica coincidência, menos de cinco meses depois, a rima mais apropriada talvez seria "uh, tá maneiro, o Neymar quer mais dinheiro". E ele trocou Barcelona por Paris. Direito dele. Mas é meu dever dizer: havendo um novo Barça e PSG, estarei torcendo por Messi e companhia. Não se troca uma identificação por 222 milhões de nada.