quinta-feira, 29 de junho de 2017

Porcaria No Parque

O estádio palmeirense recebeu grande público no jogo de ida pelas quartas-de-final na Copa do Brasil 2017, sendo palco de uma bela partida nessa noite de quarta-feira.

Então por que "Porcaria No Parque"?, alguém poderia indagar. Estimado leitor e estimada leitora, depende do que você atribui à palavra "porcaria". Reconhecendo os porcos como animais inteligentes, sensíveis e brincalhões, esse termo contempla a desenvoltura do futebol apresentado pelos comandados de Cuca. Um time alegre, envolvente, que busca o gol coletivamente. Porcos, por sinal, são seres altamente sociáveis.

Porém, o futebol não tem compromisso com a justiça (assim como muitos humanos também não têm, afinal, bastante gente submete porcos a uma vida miserável simplesmente para convertê-los em pedaços de lingüiça, salame, presunto, mortadela...). E o placar do primeiro tempo sentenciava 3a0 para o Cruzeiro, que chegou aos gols em três ótimas tramas, nas suas três finalizações até então. Um duro golpe aos donos da casa, que criavam chances mas não tinham a mesma felicidade no momento de concluir. Mas, ao contrário da sentença de morte nos matadouros - o Brasil mata oficialmente um porco a cada segundo - o futebol permite uma volta por cima. Viria o segundo tempo.

Teve comentarista esportivo que, no intervalo, comparou a atuação do Palmeiras diante do Cruzeiro com a do Brasil diante da Alemanha na fatídica semifinal de 2014. Péssima comparação. Se naquela ocasião a seleção de Felipão levou um baile de bola da equipe de Löw, dessa vez o que se via era uma partida equilibrada, apesar do placar elástico. E tanto o equilíbrio quanto a elasticidade foram rompidos no segundo tempo: o Palmeiras passou a dominar o jogo e o resultado foi refletindo essa predominância.

No final, um 3a3 construído com belo futebol. Uma porcaria de atuação. Infelizmente, durante os 90 minutos em que se disputou essa partida, esse país matou aproximadamente 5400 suínos. Todos inocentes. Todos sencientes. É o 7a1 que não vira notícia nos meios de comunicação. Que não possui apelo popular. E então, é a minha vez de perguntar: como pedir paz no esporte se nos alimentamos diariamente de violência?
Porco: símbolo do Palmeiras, vítima da indústria alimentícia. Imagem disponível em pesquisa no Bing.

sábado, 24 de junho de 2017

México Vira, Avança, Elimina A Rússia E Auxílio Eletrônico Marca Presença

Lozano mais esperto que Akinfeev. Foto: Tolga Bozoglu/EFE/EPA
Havia visto alguns comentários que previam que a Copa das Confederações 2017 seria um fracasso. Os argumentos giravam em torno:
  • da pouca procura por ingressos;
  • da seleção alemã não levar seu "time principal";
  • da FIFA considerar que o modelo da competição encontra-se esgotado.
Talvez hajam ainda mais justificativas para criticar o torneio disputado na Rússia. Mas gostaria de me fixar em dois pontos positivos. O primeiro é que, do pouco que vi até agora, gostei: Rússia e México foi o primeiro jogo que assisti inteiro e achei a partida bem interessante. Duas equipes propositivas e, curiosamente, com a equipe russa conseguindo encaixar mais jogadas envolventes que seu adversário (considerado superior tecnicamente). O México primou pela organização, sobretudo entre as duas intermediárias. Mas raramente impôs um flagrante domínio sobre os donos da casa. Virou o jogo com um misto de sorte e mérito, mas não sobressaiu ao ponto de tornar o empate um resultado fora de contexto.
O outro ponto positivo é, na minha opinião, ainda mais importante. Principalmente pelo momento que vive o futebol mundial. É a incorporação do recurso eletrônico para auxiliar a arbitragem na tomada de decisão. Funcionou corretamente no jogo e proporcionou dois ganhos inestimáveis ao evento: a justiça no resultado e a sensação de justiça no resultado. Sim, uma coisa difere da outra. Quando os jogadores dentro de campo sentem que não está havendo interferência de terceiros (sim, o árbitro deve ser considerado como uma terceira parte nessa história toda), o jogo parece fluir melhor, parece transcorrer mais leve, parece seguir seu rumo com maior tranqüilidade.

Houve dúvidas em pelo menos dois lances de queda na grande área (ambos, de fato, sem pênaltis) e um gol mexicano que colocaria 3a1 no placar (os russos sequer reclamaram de impedimento, mas ele realmente existiu).

O auxílio de vídeo chegou para ficar. Não há qualquer razão para não incorporá-lo nos próximos torneios da FIFA. Há, isto sim, a necessidade de seguirmos nessa direção e ampliá-lo quando necessário. O mundo - e isso inclui o futebol - precisa de justiça. Atentar contra ela em alguma parte é ameaçá-la em qualquer outra.

Em tempo: ótima arbitragem do árabe Fahad Al Mirdasi. Foi praticamente tão preciso quanto a própria tecnologia à sua disposição.

Ah! O jogo terminou 2a1 para o México. Os mexicanos avançam em segundo lugar (atrás de Portugal) e os russos são eliminados em terceiro (a frente da Nova Zelândia). Independentemente do que ocorra no outro grupo (onde Alemanha e Chile são as maiores forças diante de Austrália e Camarões), a Copa das Confederação já tem um vencedor: o futebol. Vitória com um golaço do auxílio eletrônico. Antes tarde do que Blatter...

sábado, 10 de junho de 2017

Deus Salve A Rainha!

Como diria o lendário narrador Sílvio Luiz:

- Pelas barbas do profeta!

Foi de uma exclamação metafórica o final de partida entre os britânicos da Escócia e da Inglaterra, em Glasgow. Aquilo que rumava para um 0a0 se transformou em um jogo de quatro gols, todos na segunda metade do segundo tempo, sendo três deles para depois dos quarenta.

Primeiramente, #ForaTemer! (Não resisti hahaha...)

Aos vinte e quatro minutos no segundo tempo, quando os ingleses esbanjavam organização defensiva mas não traziam grandes inspirações no setor de ataque, uma bola recuada "na fogueira" pela defesa escocesa rendeu um arremesso lateral para a Inglaterra no campo de ataque. Seria um lance facilmente marcável, mas Oxlade-Chamberlain, que entrara a cerca de cinco minutos, fez brilhante jogada individual e chutou firme, contando com a contribuição do goleiro Gordon para inaugurar o marcador na Terra da Rainha. Sim, senhoras e senhores, em tempos de BrExit, é bom lembrar que a Escócia também é a Terra da Rainha. E, por aquelas terras, diz-se que a maioria da população é contrária à saída britânica da zona do Euro. Mas voltemos ao futebol.

Com Martin no lugar de Anya, o treinador Gordon Strachan mostrava-se à disposição de abrir o time para tentar pelo menos o empate nos minutos finais. O que ele talvez não esperava era que sua equipe viraria o jogo! Aos quarenta e um, Griffiths cobrou falta com precisão, no lado esquerdo de Joe Hart. Uma explosão de alegria da fanática torcida local. Três minutos depois, nova falta para a Escócia por aquela região. Nenhuma dúvida: era Griffiths novamente na cobrança. Dessa vez, ele escolheu uma cobrança no lado direito do goleiro. E, mais uma vez, festa no gramado e nas arquibancadas.

O êxtase era completo e já dava para imaginar quais seriam os títulos das publicações naquele país. Ainda mais em tempos inflamados na geopolítica mundial como um todo e britânica em particular. Só que no futebol, o improvável, provavelmente, acontece. Nos acréscimos, uma bola lançada caprichosamente por Sterling (outro jogador lançado por Gareth Southgate no segundo tempo), acabou encontrando o goleador Harry Kane, que estufou a rede oponente e foi para os braços de seus compatriotas. Se bem que, ali, eram todos eles compatriotas. Com ou sem saída da zona do Euro.
Finais de jogo como o de Escócia 2a2 Inglaterra fazem o futebol sorrir. Imagem extraída de Blog do Dirceu Rabelo.

sábado, 3 de junho de 2017

Realmente, O Melhor - Madrid Arrasa Juventus Em Gales

Sergio Ramos ergue a taça da Liga dos Campeões da Europa, a 12ª na história do Real Madrid. Foto: Getty.

Vamos evitar falar de números. Apenas para não dizer que eles não foram mencionados: o jogo Juventus 1, Real Madrid 4 representou a 12ª conquista de Liga dos Campeões da Europa da equipe da capital espanhola; o segundo de Zinedine Zidane em duas temporadas como técnico; a primeira vez em 59 anos que o clube consegue vencer a Liga Espanhola e a Européia no mesmo ano. Enfim, números.

Vamos falar de futebol.

Navas é um grande goleiro. Fez uma excepcional Copa do Mundo em 2014, no Brasil, ajudando a Costa Rica a chegar às quartas no Mundial. E por muito pouco a equipe não foi ainda mais longe (lembre-se que a Holanda só conseguiu a classificação nos pênaltis). As críticas que a imprensa espanhola faz em cima dele parecem-me desproporcionais. Será que eles preferem De Gea? Francamente...

Carvajal e Marcelo formam uma consistente dupla de laterais. Do lado direito, há mais marcação. Do lado esquerdo, mais ofensividade. E rola um equilíbrio entre eles, dados sobretudo pela sólida dupla de zaga - o capitão Sergio Ramos e o cada vez melhor Raphael Varane.

O setor de meio-campo começa com Casemiro, implacável protetor da última linha. Kroos e Modric agregam qualidade na posse de bola e na capacidade de encontrar os espaços vazios de tal forma que a impressão que dá é que sempre que a redonda passa por eles, ela chegará em boas condições em um lugar melhor. Isco, por sua vez, soma um nível de energia que permite integrar os três setores. Mais à frente, Benzema, que até quando não está bem, é útil. E o elemento por muitas vezes criticado mas quase sempre decisivo. Na ausência (vide final da Eurocopa) ou na participação (vide hoje), não há como não falar de Cristiano Ronaldo. Mas como prometi evitar falar de números, vamos apenas deixar aqui que Cristiano encaminha mais uma Bola de Ouro na carreira. Sua principal virtude me parece ser a força de vontade. Uma vontade de êxito pessoal que reflete no coletivo. Uma vaidade que se apresenta como mãe da perseverança. "Eu tô aqui", ele diz. Sabemos disso.

Mas o personagem que me parece o protagonista nessa história é mais humilde. Menos midiático. E demasiadamente talentoso: Zinedine Yazid Zidane. Conseguiu na base da simplicidade, da conversa, e de algo mais, modernizar um time que já tinha conceitos modernos. Pegou uma herança positiva deixada por Carlo Ancelotti e fortaleceu o grupo. Casemiro é um dos seus "achados". Tem o seu dedo também o ótimo rendimento de Cristiano. Com todas as arestas a serem aparadas num time que não é perfeito, o que vem sendo desenvolvido é, com méritos, vencedor. É muito mais legal ver o Real jogar hoje do que alguns anos atrás. O futebol te agradece, Zizou. E estamos na expectativa pelo que você poderá proporcionar na próxima temporada.

À Juve, que teve campanha estupenda, fica a frustração. Poderia ter sido a primeira conquista continental do mítico Gianluigi Buffon. Não foi. Coisa dos deuses do futebol, que usaram Bonucci e Khedira para desviar as bolas para longe das luvas do goleiro. O golaço de Mandzukic foi insuficiente. Faltou um pouco de Higuaín. Faltou um tanto de Dybala. E sobrou Massimiliano Allegri, que precisou ver o adversário ficar dois gols a frente para colocar Cuadrado. Por mais que haja uma diferença entre times e elencos, talvez o maior abismo entre Real e Juventus esteja na mentalidade de seus treinadores. Não sei se o jogo teria sido tão interessante e dinâmico caso a Juve tivesse ficado em algum momento na frente no placar. E, sinceramente, melhor nem saber. Os deuses nos deram um roteiro melhor. Parabéns, Real Madrid e obrigado, Zidane.
Zinedine Zidane em seus tempos de Juventus. Sobrava nos gramados. Imagem extraída de Sportsmo.