domingo, 13 de julho de 2014

Vale Mais Que O Bronze: Holanda Começa E Termina A Copa Do Mundo Com Goleada

Foto: Natacha Pisarenko / AP Photo
A disputa de terceiro lugar no estádio Mané Garrincha entre Brasil e Holanda deve marcar diferentes significados nas duas seleções. Na brasileira, qualquer reflexão mais aprofundada levará a pessoa a torcer por um ponto de ruptura, isto é, o fim de uma seqüência de trabalho que só acrescentou vergonha ao futebol brasileiro. Quer dizer, é claro que teve aquela gente que se empolgou e aplaudiu os 3a0 sobre a Espanha na Copa das Confederações 2013 (iludidos, movidos pelo resultado)... Mas vamos lá, hoje parece quase consensual que precisamos de mudanças no comando técnico (infelizmente, onda novamente movida por resultados, pois tudo parecia caminhar bem para muita gente antes dos 7a1). Já na seleção holandesa, o cenário projetado é de um futuro mais promissor do que o pré-Mundial: Louis van Gaal encerra um ciclo de dois anos que iniciou após herdar campanha abaixo das expectativas na Euro-2012 e que deixa um legado para a Laranja, invicta tanto nas Eliminatórias quanto na Copa. Equipe rejuvenescida, com boas opções em todos os setores e que ainda deverá ser agraciada com o talento de craques como Arjen Robben (possivelmente o melhor jogador na Copa 2014 e em ótimas condições físicas) bem como a evolução de boas promessas, como o defensor Stefan de Vrij (aparenta uma maturidade muito além dos 22 anos de idade), o meio-campista Georginio Wijnaldum (mostrou qualidades surpreendentes inclusive quando assumiu a posição de Nigel de Jong, e olha que tem somente 23 anos), além de elementos mais ofensivos como Memphis Depay, autor de um golaço diante da Austrália. Para só citar esses três exemplos, que provavelmente estarão entre os jogadores mais importantes de Guus Hiddink, próximo técnico da equipe. Lembrando: a Holanda levou para 2014 somente sete vice-campeões em 2010.

No jogo, a Holanda foi vencedora desde sempre. O futebol perdeu a atuação de Wesley Sneijder, que sentiu a coxa ainda no aquecimento e não jogou. Mas o futebol viu os holandeses, então, tá tudo certo no final das contas. Robben recebeu ótima enfiada de bola e deixou Thiago Silva para trás sem nem pedir licença. Vou passar, tô passando, passei por você. Tal qual uma flecha em direção ao alvo, foi difícil ver em que momento o zagueiro brasileiro cometeu a falta, se antes ou depois da flecha entrar na área grande. O árbitro entendeu que dentro e a verdade é que só fui perceber que ele errou depois de ver a repetição do lance. O erro mais grave foi o de ter dado apenas o amarelo no lance. Robin van Persie cobrou e abriu a contagem já no terceiro minuto. Mais rápido que a Alemanha na semi!

E se quem tem futebol e padrão tático não tem tempo a perder, a Holanda tratou de marcar o segundo aos quinze: em nova jogada de infiltração, onde dessa vez a dúvida era sobre o posicionamento de Jonathan de Guzmán (que estava alguns centímetros adiantado, em impedimento não identificado). Mas não houve dúvidas sobre a incapacidade da defesa brasileira lidar com o ataque holandês: David Luiz rebateu para o lugar que menos se recomenda a um zagueiro e, da marca do pênalti, Daley Blind arrumou duas vezes com a perna esquerda para enfim chutar com a perna direita, estufando a rede brasileira.

No banco de reservas da seleção anfitriã, viam-se orientações sendo dadas aos jogadores. Só que não pelo treinador, e sim por atletas como Neymar (que não jogou a semifinal) e Hulk (que joga mas não joga, sabe como é que é...). Conselhos extra-campo à parte, quem sabia o que fazer no gramado era a Laranja. No segundo tempo, mesmo com tantas alterações (Luiz Gustavo pelo violento Fernandinho, jogador do qual não vi essa faceta quando com a camisa do Manchester City; Paulinho por Hernanes, outro que mais pegou adversários do que bola; e Ramires por Hulk, que entrou para fazer o de sempre, ou seja, correr sem pensar), o Brasil continuava similar. Van Gaal trocou Blind (machucado) por Daryl Janmaat, que apresentou-se diversas vezes ao campo ofensivo. Depois, Joel Veltman entrou no lugar de Jordy Clasie. A torcida brasileira, que começou cantando o hino nacional com força, declarou orgulho e amor pela nação e até mandou o grito de pentacampeão, entregou-se aos fatos. Rolaram vaias quando a equipe amarela tinha a bola e gritos de olé durante a posse de bola holandesa. Havia tempo para mais. Em intensa troca de passe, Janmaat recebeu pela direita e deu a assistência para Wijnaldum transformar a vitória em goleada, nos acréscimos. Havia tempo para mais uma substituição e Van Gaal tratou de colocar o último jogador em campo, o único que ainda não havia atuado: entrou o goleiro Michel Vorm no lugar de Cillessen. Mas era outro goleiro, de outra nacionalidade, que devia estar doidinho para sair de campo, de preferência sem ser visto... Mas relaxa, Júlio César. Apesar do tanto de gols que tomaste, individualmente não é que você se saiu melhor nesse Mundial do que no anterior?

E assim termina a Copa 2014 para Brasil e Holanda. O favoritaço de muita gente não teve uma única atuação convincente. Despede-se com duas derrotas por goleada nas duas últimas partidas. Já a desacreditada pela maioria começou goleando a atual campeã mundial e bi-européia, e concluiu a bela campanha goleando o campeão da Copa das Confederações. Terminou invicta. Com bom futebol. E com motivos para sorrir quando o assunto é "futuro".
Foto: Manu Fernandez / AP Photo

Seleção medalha de bronze: todos vinte e três convocados de Louis van Gaal entraram em campo na campanha invicta da Holanda na Copa do Mundo 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário