quinta-feira, 3 de julho de 2014

Resposta Ao Texto "Os Chorões Do Brasil"

Resposta à publicação de Juca Kfouri no último dia 30. Veja a publicação clicando aqui ("Os Chorões Do Brasil").

Os trechos em negrito foram transcritos de lá para cá, fragmentando o texto original para aqui o analisarmos.

Estamos nas quartas-de-final, e como um quadro impressionista, a seleção vai pincelando com traços tortos e cores vibrantes as suas vitórias.

Bota tortos nisso. Tão tortos que em quatro jogos ainda não deu para descobrir a formação tática da seleção mais bagunçada no Mundial. Enfim, até que provem o contrário, é o tal do 4-2-3-BolaNoNeymar. Até porque o Neymar tem um talento indiscutível para entortar adversários.

E vence de goleada, vence até quando empata.

Vence de goleada, quando encontra Camarões que a onda já levou. Vence quando empata (talvez não contra o México), até porque levar uma bola no travessão aos catorze minutos no segundo tempo da prorrogação dá a qualquer empate o sabor de vitória.

Vence porque não é impulsionada por vontades humanas, e sim, animada por forças maiores do universo, pelos deuses do futebol.

Aí virou blasfêmia. Daqui a pouco vamos fizer que "os deuses do futebol" apitaram o pênalti inexistente no Fred, "os deuses do futebol" inventaram a falta de Olic em Júlio César, "os deuses do futebol" não quiseram expulsar Neymar por uma cotovelada à la Leonardo-1994.

Estas mesmas divindades que em 50 erraram feio, decepcionando e calando seus devotos mais fiéis.

Devotos fidelíssimos, que mandaram o goleiro Barbosa para a fogueira da inquisição.

Em razão disso, hoje, brotam do asfalto profetas do ateísmo rugindo prenúncios de mais uma avassaladora derrota da Seleção. “O time não tem meio campo!… Com Fred no ataque, a seleção joga com um a menos!… Nosso goleiro joga no Canadá; e por acaso existe futebol no Canadá?…”

Sim, há lucidez no meio da ignorância conveniente. Só não entendo a denominação "profetas do ateísmo".

Esses monarquistas órfãos; sebastianistas do futebol, deitados eternamente em berço esplêndido, ficam à espera de um novo rei, de um cavaleiro de armadura reluzente e espada em riste, de um herói que venha a lhes salvar da perdição de um futebol de ressaca.

Não precisamos de um herói. Exigimos um técnico de futebol, o que já seria um ótimo começo.

Não aceitam a beleza de um escrete de plebeus, sem gênios, nem heróis, nem reis, sem garrinchas.

Garrinchas sempre serão bem-vindos. Só que esquemas táticos também. Que o Mané descanse em paz, o que não deve ser simples ao lançar olhares para o time do Felipão.

Querem um caminho fácil como um toque de calcanhar de Sócrates, repleto de flores das vitórias incontestes, e perfumado pelas goleadas retumbantes. “Devemos ser os melhores!… Temos que mostrar ao mundo o futebol arte!…”

Devemos tentar ser os melhores. Devemos tentar mostrar ao mundo o futebol arte. Essa é a nossa história, esse é o nosso DNA. Traçar objetivos menores é entregar-se à mediocridade.

Amigos, o que seria das grandes tragédias gregas se fossem escritas por esses pobres-profetas ressentidos?

Começou o nível 2 da apelação.

Não passariam de contos da carochinha, a Ilíada seria igual ao Harry Potter, e a Odisseia teria o mesmo enredo de Tom e Jerry.

Nível 3.

Me digam qual é a graça em ser o melhor e vencer?

Tá aí uma pessoa que deve ter sofrido muito com as seleções de 58, 62 e 70. Pausa no texto para suspiros de satisfação com o atual selecionado de Felipão e seu desempenho cheio de graça.

Isso tinha seu valor lá atrás, quando ninguém sabia muito bem quem eram aqueles belos e mágicos vira-latas de amarelo.

Melhor ler isso do que ser cego.

Mas agora? Agora não! Agora somos o país do futebol, a terra abençoada de onde brotam os craques e florescem os dribles desconcertantes.

É impressão minha ou alguém está caindo em contradição?

Então, apenas para confundir a certezas dos idiotas da objetividade, as divindades da bola colocam em campo um Brasil opaco, que chama mais a atenção pelas lágrimas que seus jogadores vertem do que pela sua classificação para a próxima fase do Mundial.

Tá aí a entrega à mediocridade. Não falamos mais sobre maneiras de jogar, alternativas de superar um adversário tecnicamente inferior. Falamos de lágrimas.

“Estão abalados psicologicamente!… Estão amarelando!…” Gritam em cada esquina os arautos do pessimismo, essas almas embrutecidas de corações amargos e olhos ressequidos.

Estão chorando amores pela nação! Melhor assim?

Não são capazes de enxergar o óbvio.

Não somos. Você que é, obviamente.

Thiago Silva e Neymar choram durante a execução do hino nacional? Júlio César chorou após voar como um pássaro e defender dois pênaltis? Meu deus!, e quem não chora depois de presenciar um milagre?

Sem padrão de jogo, só com milagre mesmo para ir tão longe num Mundial tão competitivo como esse. Incompetência de fazer chorar.

Ouso mais uma vez ressuscitar Nelson Rodrigues para dizer que, quem não chorou lágrimas de esguicho após a última cobrança na trave do chileno Jara, é um mau-caráter.

Ressuscitar o futebol brasileiro você não quer, né? E quanto a nós, devemos nos apresentar numa delegacia ou diretamente numa penitenciária? 

Se for verdade que Deus escreve certo por linhas tortas, caramba, nunca vi escrita tão certa em linhas mais oblíquas.

Acho que agora entendi de onde vem o 'profeta do ateísmo'. Demorei, mas consegui enxergar o óbvio.

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