quinta-feira, 26 de junho de 2014

Mesmas Seleções, Nova Copa, Benditas Transformações

Suíça e Honduras, Honduras e Suíça. Nas duas últimas Copas, esse confronto aconteceu precisamente num vinte e cinco de junho, valendo pela terceira rodada na fase de grupos (agradeço ao amigo Danilo Silveira por lembrar a coincidência entre as datas). Em 2010, ninguém fez gol em Bloemfontein, África do Sul. Em 2014, um jogão de bola que terminou com chocolate suíço: 3a0 em Manaus, Brasil.

De lá para cá, mais do que quatro voltas do planeta Terra ao redor do sol, vimos algumas transformações nessas duas seleções. Porém, vamos começar por aquilo que se manteve semelhante.
Os goleiros Benaglio e Valladares, por exemplo. Não fossem eles, pode ter certeza que a partida jogada na Arena Amazônia teria tido muito mais gols. Participaram ativamente de um jogo movimentadíssimo, honrando a experiência de estarem novamente defendendo o gol de suas seleções. Os zagueiros Figueroa e Bernárdez, de Honduras, atuaram como titulares nas duas ocasiões. Raçudos para suíço nenhum botar defeito. A Suíça poderia até ter Von Bergen novamente, mas a contusão na partida diante da França tirou o zagueiro central dessa última rodada. Lichtsteiner na lateral-direita suíça: um líder nato, orientando o time a todo momento. Chávez, que era o titular na lateral-esquerda hondurenha em 2010, entrou no intervalo e foi um dos melhor jogadores no segundo tempo, caindo justamente em cima de Lichtsteiner - talvez se tivesse jogado os noventa minutos, o resultado final pudesse ser diferente. Wilson Palacios por Honduras e Gökhan Inler pela Suíça são quase como espelhos: os dois vestem a camisa oito e têm como característica a versatilidade de quem marca e sai para o jogo. Ambos estiveram presentes há quatro anos e nesse segundo confronto fizeram uma partidaça, com destaque para Inler, possivelmente o melhor jogador em campo.

Com tantas similaridades entre aquela e essa Copa, é quase como se os deuses do futebol estivessem sugerindo que se reescrevesse a história. Então, o que havia de diferente? Até o árbitro das partidas era argentino! Baldassi lá, Pitana cá. Mas ambos argentinos. Uma diferença atende pelo nome de Xherdan Shaqiri. O meia-atacante nascido no Kosovo (e que tem orgulho disso) era um garoto de dezoito anos em 2010, tendo entrado em campo aos trinta e dois minutos no segundo tempo. Exatos quatro anos mais tarde, aos vinte e dois de idade, o jovem que atua no Bayern de Munique foi substituído aos quarenta e um na etapa final basicamente para ouvir os aplausos de um público que assistiu o hat-trick e reconheceu a importância do camisa vinte e três para a classificação que estava sendo conquistada. 3a0, três dele, e a humildade de agradecer aos companheiros pelas assistências: uma foi de Lichtsteiner, as outras de Drmic. Drmic que não estava em 2010 - naquela ocasião o atacante mais badalado era o veterano Frei, num setor que também contava com N'Kufo, Derdiyok, Yakin. Hoje, os elementos no ataque são Shaqiri, Xhaka, Drmic, Seferovic. No lado hondurenho, David Suazo não voltou para esse Mundial, Jerry Palacios dessa vez começou no banco (e entrou bem no jogo, substituindo o contundido Costly ainda antes do intervalo), enquanto o esforçado Bengtson atuou os noventa minutos, herdando a camisa onze de Suazo.

Não dei àquele 0a0 em 2010 a mesma atenção que foi dada a este 3a0 na quarta-feira. Confesso: torci contra a Suíça naquela ocasião, motivado pela formação ultradefensiva apresentada pela seleção européia. O 0a0, felizmente, serviu para eliminá-los na fase de grupos. E é aí que reside a grande transformação nesse intervalo de quatro anos. A Suíça de 2014 veio para o Brasil com uma proposta de jogo absolutamente diferente da apresentada na África do Sul. Tive a oportunidade de vê-los jogar nas arquibancadas no estádio Mané Garrincha, na estréia vitoriosa diante do Equador, e gostei muito do que pude presenciar. A retranca deu lugar a um time que toca a bola. Os volantes que pareciam zagueiros se transformaram em elementos que protegiam a defesa, sim, mas que mantinham-se focados na transição ao ataque. A equipe até tomou gol de bola parada, algo impensável noutros tempos. Só que marcou duas vezes, coisa mais difícil ainda de imaginar (teve até gol erradamente anulado). Diante de Honduras, muita produtividade para marcar três gols e parar outras tantas vezes no goleiro Valladares. E sabe o que há de mais interessante nisso tudo? É que o treinador continua sendo o alemão Ottmar Hitzfeld! Mostrou que sabe trabalhar das duas maneiras. E o futebol só tem a agradecê-lo por ter escolhido a atual opção. Os hondurenhos, também dignos dos parabéns, saíram zerados no placar muito mais por falta de sorte da equipe e competência de Benaglio do que por escassez de oportunidades. Sinal que o trabalho do colombiano Luis Fernando Suárez (que assumiu o posto que era de seu compatriota Reinaldo Rueda) é também elogiável.

A Suíça, que despediu-se melancolicamente diante de Honduras em 2010 honrando a sua então proposta de jogo com um 0a0, dessa vez avança para as oitavas com duas vitórias em três jogos. E o futebol apresentado nessa fase de grupos traz a expectativa de que teremos um jogaço de oitavas-de-final entre ela e a Argentina. Com as bênçãos de Hitzfeld.
Shaqiri cumprimenta Hitzfeld após ser substituído: jogador marcou os três gols no jogo e treinador promoveu transformações admiráveis na seleção suíça da Copa passada para essa.

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