terça-feira, 29 de abril de 2014

Bye, Bye, Bayern

A definição do primeiro finalista na Liga dos Campeões da Europa 2013-4 trouxe uma grande surpresa. Não que o Real Madrid passar pelo Bayern de Munique seja algum absurdo, mas fazendo 4a0 na Allianz Arena?

Pep Guardiola não conseguiu repetir o desempenho de seu antecessor Jupp Heynckes. Se na temporada passada o Bayern atropelou o Barcelona nas semifinais, dessa vez foi um time espanhol que castigou os alemães. Curiosamente, também no ano passado o Real Madrid havia caído nessa mesma fase no torneio levando uma sapecada do também alemão Borussia Dortmund.

Pelo menos uma conclusão dá pra tirar desses dois eventos (o sucesso do Bayern de Heynckes sobre o Barça e o fracasso do Bayern de Guardiola diante do Real Madrid): o jogo de velocidade com marcação adiantada e saída objetiva nos contra-ataques encaixa bem no modelo de intensas trocas de passes. Em outras palavras, para defrontar a escola barcelonista-guardioliana, não é necessário (nem viável) jogar na retranca, no feitio de José Mourinho. Carlo Ancelotti mostrou-se superior ao seu antecessor de Real Madrid, pois conseguiu encarar um estilo de jogo imponente de uma maneira eficaz sem abdicar do ataque.

Talvez o maior adversário do Bayern nem tenha sido o fortíssimo Real, mas o próprio Bayern. O incentivo de Pep para o time "jogar com agressividade" não parece ter sido assimilado ou, pelo menos, bem compreendido. Alemães costumar ser frios, estratégicos, disciplinados. Agressividade, no primeiro tempo, foi confundida com violência. Poderia até ter pintado um cartão vermelho para Dante, por carrinho imprudente em Cristiano Ronaldo. Aproveitando-se de erros de marcação dos donos da casa na bola parada, Sérgio Ramos marcou duas vezes e encaminhou a classificação. Num contra-ataque à la Bayern de Heynckes, Modric acionou Bale, que serviu Cristiano. O português aproveitou. Se ele agradeceu? Que nada, comemorou egocentricamente celebrando o recorde pessoal de quinze gols numa edição de UCL. Este é Cristiano: grande talento e um ego ainda maior.

No segundo tempo, o Bayern desenvolveu seu jogo na busca pelo improvável que o avançar dos minutos iam tornando impossível. A entrada do ótimo Götze aumentou a qualidade da equipe no meio-campo (Ribèry e Müller não renderam, restando saber até que ponto por influência da tal proposta de "agressividade"). No final, uma cobrança de falta de Cristiano por baixo da saltitante barreira selou a goleada merengue.

Vindo quem vier - Atlético de Simeone (clássico local) ou Chelsea de Mourinho (imagina só...) -, Ancelotti terá de conviver com o favoritismo na decisão de 24 de maio. Do jeito que o italiano é cascudo e vencedor, deve nesse momento estar tranqüilo e calmo, pronto pra mais uma. Se alguém ainda achava que faltava ao italiano ex-Milan, Chelsea e PSG
provar algo no futebol, acho que esse 29 de abril deixou um ponto final. O multicampeão mostrou que o rótulo de retranqueiro, que por tanto tempo o acompanhou, não lhe cabe. Pelo menos não se a idéia for desqualificá-lo.

Observação: a Alemanha pode ter sido a maior vencedora nessa história toda. A julgar pelo maior descanso que jogadores terão com a eliminação do Bayern e levando em consideração o esquema de jogo de Joachim Löw (que mescla um pouco de Guardiola com um pouco de Ancelotti, guardadas as devidas proporções), é bem provável que o técnico alemão tenha o antídoto para defrontar adversários que tenham a tendência de utilizar um estilo mais à exaustão. Seja de posse, seja de contra-ataque, seja de retranca. Pintou o tetra? Aguardemos.

domingo, 27 de abril de 2014

Tropeço Ou Escorregão - Liverpool Cai Diante De Muro Azul

O Liverpool, que vinha voando, tropeçou em Anfield Road. Tropeçou porque precisou caminhar, já que o aeroporto estava bloqueado por uma muralha azul. Dava no máximo pra fazer um check-in. Embarcar era tarefa complicada. Decolar, impossível. José Mourinho conseguiu fincar sua âncora no campo defensivo e vencer a partida graças ao acaso: um escorregão de Gerrard no final do primeiro tempo e uma bola recuperada ainda no campo defensivo no final do segundo. Coube ao goleiro Schwarzer fazer sua atuação mais importante com a camisa amarela dos Azuis e ratificar o resultado que mantém o Chelsea na disputa pelo título doméstico. Pela primeira vez desde 1986, podemos ter novamente 3 equipes com chances de título na última rodada na competição.

O jogo pode ser resumido pela frieza do Chelsea na arte (abusiva) de (só) se defender e pelo oportunismo dos dois únicos centroavantes da equipe visitante - Demba Ba e Fernando Torres, que entrou em seu lugar. Ba partiu para a rede após vacilo do capitão Gerrard. Torres também não desperdiçou a chance após erro de passe de Sturridge, servindo Willian numa investida dos dois contra o solitário goleiro Mignolet. E assim é o futebol: não importa quanto tempo você fica com a bola (o Liverpool teve em alguns momentos três vezes mais a posse do que o Chelsea), não importa quantas vezes você circule a área oponente (foram quatro vezes mais finalizações dos donos da casa e do jogo). "O que importa é o resultado", dirão os mais calculistas. E, no cálculo de Mourinho, os números bateram. 2a0, placar final. E o português bateu no peito, orgulhoso do que estava acontecendo. Uma comemoração bastante efusiva para quem se dizia fora da disputa pelo título.

Torcedores dos Reds terão uma tarefa dura pela frente: torcer pelo Everton no próximo sábado, quando o rival da cidade de Liverpool enfrenta o Manchester City, concorrente ao título, no estádio Goodison Park. Faz parte de uma caminhada para voltar a levantar um troféu que não é erguido no Anfield desde 1990. Que hora pra escorregar, Gerrard...
Montagem bem-humorada: Steven Gerrard escorrega, deixando escapar a bola, Demba Ba e... o troféu de campeão inglês.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Questão De Coragem

As semifinais na Liga dos Campeões da Europa na presente temporada permitem fazermos comparações entre dois treinadores muito badalados no futebol atual. Um é Josep Guardiola, do qual sou grande admirador. Outro é José Mourinho.

A maior semelhança entre ambos - além da grande quantidade de troféus levantados - está na grafia do primeiro nome: são quatro letras idênticas. Só que se o talento fosse medido dessa forma, poderíamos afirmar que a letra "P" é muito mais poderosa que o acento agudo.

Explicando e comparando. Mourinho e Guardiola viajaram para a capital espanhola. O Chelsea visitou o Atlético no Vicente Calderón e, no dia seguinte, o Bayern enfrentou o Real no Santiago Bernabéu. Tanto os Azuis de Londres quanto o Gigante da Baviera carregam consigo elencos milionários, que em nada devem aos adversários. Vale lembrar que esses dois clubes se enfrentaram na final continental apenas duas temporadas atrás (então treinados por Roberto Di Matteo e Jupp Heynckes). Ou seja, talento é o que não falta nesses plantéis. Saca só o nível: Cech, Neuer, Terry, Boateng, David Luiz, Dante, Lampard, Schweinsteiger, Ramires, Lahm, Willian, Robben, Hazard, Müller, Oscar, Götze, Ribèry, Schürrle, Torres, Mandzukic, Demba Ba, Kroos etc. Com esse material humano, Mourinho e Guardiola podem buscar diversas maneiras de jogar. E a cidade de Madrid viu bem isso.

Na terça-feira, um Chelsea covarde foi montado com uma linha de quatro na defesa (Azpilicueta, Terry, Cahill, Cole) e uma linha de cinco no meio (Willian, Mikel, David Luiz, Lampard, Ramires) e Torres na frente. Na frente e isolado, pois Willian e Ramires mais acompanhavam os laterais oponentes do que se aproximavam do atacante espanhol. Resultado: zero a zero numa partida com poucas emoções. Diria que beirou o entediante. Triste para o esporte.

Já na quarta-feira, outra conversa. O Bayern atuou com a posse de bola e ofensivamente, mesmo diante de um adversário fortíssimo nos contra-ataques (há que se respeitar um time que conta com Modric, Cristiano, Di María e Benzema, além de Bale). Mas covardia não é palavra para o vocabulário de Pep. A equipe atuou com Rafinha e Alaba se apresentando ao ataque de modo a deixar somente Boateng e Dante como autênticos defensores; Lahm e Scheinsteiger encostavam na trinca de meias (Robben, Kroos e Ribèry) enquanto Mandzukic, ao contrário de Torres no dia anterior, tinha com quem conversar. Resultado: um a zero para o Real numa partida repleta de alternativas. Tivemos um jogo. Um grande jogo. Ótimo para o esporte.

No final, os placares na Espanha dão aos times de Diego Simeone e Carlo Ancelotti a vantagem do empate na volta. Teoricamente, melhor para o italiano, que pode perder por um gol de diferença caso marque pelo menos uma vez. Porém, vejo mais possibilidades de sucesso para o argentino. O motivo? Seu adversário é Mourinho. Será muito mais difícil sobreviver ao Bayern de Guardiola. E olha que nem precisa de coragem para afirmar isso: basta ter algum bom senso. Coisa que por vezes falta para aqueles que têm medo.