quarta-feira, 1 de maio de 2013

Lições

A torcida barcelonista cantava a plenos pulmões quando soou o apito final do árbitro esloveno Damir Skomina. Alguns poderão contestar uma ou outra decisão dele e de seus auxiliares nos pouco mais de noventa minutos de jogo, mas o resultado foi incontestável. Um adulto com uma criança flagrados pela transmissão televisiva após o encerramento do jogo (provavelmente eram pai e filho, este seguramente com menos de seis anos de idade) davam o tom do quão especial foi o jogo disputado no Camp Nou. O adulto sorria com a camisa azul-grená do Barcelona, levantando a criança que, com semblante também alegre, exibia a camisa amarela da mesma instituição catalã. A felicidade transcende circunstâncias. É um estado de espírito. Ou "o caminho", como disse Mahatma Gandhi.

Por que, afinal, aquelas dezenas de milhares de pessoas cantavam com força e emoção ao final da partida? Por que aplaudiam seus jogadores? Por que estampavam no rosto um ar de satisfação quase intangível? Por que essas imagens se o time que mobilizou essas pessoas a comparecerem ao estádio na noite de quarta-feira perdeu o jogo por 3a0 e a eliminatória por 7a0? Sim, três e sete! A zero! Será que, de tão acostumados a vencerem partidas e torneios, estes indivíduos não sabem mais expressar o sentimento característico dos derrotados? Como ensinar essa gente a manifestar aquilo que a situação lhes impõe?

Pois acho que não temos nada a lhes ensinar. Temos, isto sim, é muito o que aprender com eles. O Barcelona, dentro de campo, jogou um pouco diferente do habitual. Não foi tão paciente com a posse de bola, não foi tão criterioso para escolher o momento de chutar em gol, nem tão comportado em determinadas divididas de bola. Faltava-lhe Messi, sentado no banco por estar longe das condições ideais de jogo. Uma frustração para imprensa, torcida, elenco catalão. Todos queriam ver o gênio conduzindo o melhor time do mundo a uma virada improvável diante do poderoso Bayern de Munique. O Barça não foi capaz de superar o Bayern. Parou algumas vezes em Neuer e muitas em Javi Martínez, Bastian Schweinsteiger e companhia. Não poderiam supôr que o 0a0 ao intervalo era uma parte das menos amargas da noite. No segundo tempo, Robben (golaço, no melhor estilo Robben de se resolver um lance), Piqué (contra, pois só faz contra quem está na jogada, e Piqué está sempre na jogada) e Muller, o mais centroavante dos meias bávaros, marcaram nos 3a0. Mas voltemos ao "temos, isto sim, é muito o que aprender com eles". Dentro de campo, quem deu aula foi o Bayern. Ponto. Mas nas arquibancadas, se não tivemos nada comparável ao caldeirão que foi montado pelos alemães na partida de ida, ficamos diante de imagens marcantes. Aquele adulto com aquela criança e tantas outras pessoas que ficaram até que seus jogadores deixassem as dependências do campo de jogo e aplaudiram cada um deles, essas dezenas de milhares de pessoas servem de inspiração. Se o futebol nos mostrou hoje que o Bayern é uma máquina e chega à final continental com o Borussia com todo o merecimento possível, os catalães nos mostraram que o Barcelona é muito mais que um clube. Confesso não saber definir o que seja exatamente, e nem tenho essa pretensão. Talvez seja um estado de espírito.
Mosaico de quase cem mil pessoas, onde cartazes e mãos exibem o orgulho catalão. Após o jogo, mesmo com a goleada sofrida e a eliminação, a grande maioria permaneceu no seu lugar e deu linda lição de amor pelo clube do coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário