domingo, 27 de janeiro de 2013

Copa Africana De Emoções

Feito o desafio: procure um esporte no mundo, qualquer modalidade que seja, que proporcione mais emoções do que o futebol é capaz.

Hoje, o grupo A na Copa Africana de Nações 2013 justificou isso posto no parágrafo acima. Que desfecho sensacional na chave! Alternâncias na liderança, na dupla de classificados, no choro, na alegria, na lágrima que vem pelo êxtase e que se exala pela frustração. Futebol, você é unico!

Ao mesmo tempo em que Marrocos e África do Sul duelavam em Durban, Cabo Verde e Angola faziam encontro de língua portuguesa na cidade de Porto Elizabeth, extremo sul no continente africano. Aí você pergunta: "tá, e o que de tão interessante poderia sair daí?". Resposta: "tudo". E mais um pouco.

Numa partida bastante movimentada dentro de campo e barulhenta fora dela, sul-africanos, com as bênçãos da torcida vuvuzelante, e marroquinos, fora de casa mas bastante à vontade no gramado, travaram jogo de muitas oportunidades de gol. Marrocos abriu o placar aos nove minutos, quando El Adoua aproveitou cobrança de escanteio de Barrada e indecisão do goleiro Khune para cabecear pra rede. Mas quem ousaria criticar Khune? Ele já havia evitado outro gol adversário minutos antes, barrando tentativa de toque de cobertura de Barrada. Mais tarde, nova intervenção salvadora, dessa vez evitando o que seria um gol de El-Arabi, tendo inclusive abandonado a área para agir como se fosse um líbero.

A África do Sul também teve algumas aproximações do gol, mas não apresentava organização o bastante para ter um volume de jogo capaz de manter Marrocos sob pressão. Mas dos males o menor, pois Angola vencia Cabo Verde por 1a0, placar que colocava, nos intervalos de partidas, Marrocos e África do Sul, nessa ordem, como seleções classificadas. Só que o povo sul-africano em Durban queria festejar com a sua seleção mais do que com o resultado alheio. E pôde festejar aos vinte e cinco minutos do segundo tempo: Rantie deu o passe e Mahlangu, esbanjando categoria, colocou a bola na gaveta esquerda, fazendo do goleiro Lamyaghri mero espectador no lindo lance. Igualdade no placar que fazia os sul-africanos assumirem a liderança na chave, dando aos angolanos o segundo lugar no grupo.

Só que o mundo é dinâmico e o futebol mais ainda. Cabo Verde empatava a partida em Porto Elizabeth, recolocando Marrocos entre os classificados e trazendo Angola para a eliminação conjunta das antigas colônias lusitanas. E a situação marroquina ficou melhor do que nunca aos trinta e seis minutos do segundo tempo, pouco depois do gol cabo-verdiano: Hafidi, que entrou no segundo tempo no lugar de Kaddioui, recebeu cruzamento de Bergdich em liberdade dentro da área. Mais precisamente, dominou a bola na região onde fica a marca do pênalti. E não desperdiçou, recolocando Marrocos em vantagem no placar e na liderança na chave A. Foi linda de ver a imagem do treinador Rachid Taoussi se ajoelhando e beijando o solo, em reverência a Alah - ou seria aos deuses do futebol?

A apreensão passou toda ela para os jogadores - e torcedores - da África do Sul. Com a derrota aqui e o empate lá, bastaria um gol de Cabo Verde para eliminar os anfitriões. De eliminação na primeira fase jogando em casa, bastava aquela no grupo A na Copa do Mundo de 2010, não é verdade? Então, aos quarenta e um minutos, Durban explodiu em alegria: Mahlangu dividiu com a defesa marroquina e a bola chegou limpa até Sangweni, que descolou finalização parecida com a do autor da assistência, chutando cruzado no canto esquerdo, só que rasteiro em vez de pelo alto. Era a África do Sul mais uma vez alcançando o empate e retomando a liderança no grupo.

Só que a maior emoção na rodada estava guardada para os acréscimos. Em Porto Elizabeth, Cabo Verde virou o jogo diante de Angola, assumindo a vice-liderança na chave e ultrapassando Marrocos. Em Durban, o 2a2 se manteve, ratificando a primeira colocação para o país-sede. As vuvuzelas ressoaram e, tenho certeza, a população sul-africana está em festa até agora. Assim como festeja cada um dos quinhentos mil habitantes cabo-verdianos, que em plena primeira participação na Copa da África, arranca uma classificação digna dos grandes heróis. Isso é a vida. Isso é o futebol.
Heldon comemora o gol marcado nos acréscimos: Cabo Verde venceu Angola de virada e avançou às quartas-de-final na Copa Africana de Nações em sua primeira participação no torneio.

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