domingo, 18 de dezembro de 2011

Um Campeão Como Deve Ser: Viva O Barcelona De Guardiola

Hoje o mundo da bola aprendeu uma lição. A sala de aula era o estádio Nissan, em Yokohama, que registrou 68.166 alunos presentes nas arquibancadas. Outras centenas de milhões de pessoas acompanharam o aulão à distância, em todos os continentes do planeta.

Ministrando a aula estava o Barcelona de Josep Guardiola, com mais uma demonstração de que o futebol, esse tão apaixonante esporte inventado pelos bretões, vai muito além da mera prática esportiva - é uma manifestação artística. E, com atores do mais alto nível como são esses personagens que compõem o elenco barcelonista, o resultado só poderia ser um espetáculo.

Parabéns e obrigado, Barcelona. O domingo futebolístico foi agraciado com mais essa encantadora performance de um grupo que encanta o mundo há algum tempo. E é um prazer viver nesse tempo.

O jogo (leia-se "A aula")

O domínio azul-grená foi do primeiro ao último instante de partida. O melhor jogador santista em campo começou a se destacar com duas defesas em seqüência, aos doze minutos: primeiro espalmando chute cruzado de Lionel Messi e depois rebatendo a finalização de Thiago Alcântara, se redimindo do rebote proporcionado no lance. Ainda aos doze, Andrés Iniesta chutou de fora da área e mandou à direita.

O Santos descolou sua primeira finalização aos catorze minutos: Borges caiu em disputa com Gerard Piqué e o árbitro uzbeque Ravshan Irmatov apitou falta na proximidade da área. Na cobrança, Neymar rolou para Paulo Henrique Ganso e o chute do meio-campista saiu à esquerda, sem assustar. Dois minutos depois, aos dezesseis, o placar seria aberto com um golaço no estilo Barcelona. Troca de passes de um time que valoriza a posse de bola sem abrir mão da objetividade, domínio de bola e assistência dignas de um Xavi Hernández e finalização com o selo Messi de qualidade. Prefiro mostrar em vídeo do que narrar com palavras esse primor de jogada.


Com vinte minutos de aula, o Barcelona detinha 74% da posse de bola. Envolvia o Santos como quem enfrentasse um time qualquer, podendo fazer-nos esquecer que do outro lado haviam jogadores do nível de Arouca, Ganso e Neymar (naquele momento, Elano estava no banco). Aos vinte e três, tome 2a0 Barça: após intensa troca de passes, Daniel Alves recebeu na direita e deu a bola para Xavi, que dominou e, praticamente da marca do pênalti, chutou para a rede.


Dois minutos após marcar o segundo, quase saiu o terceiro: Messi tabelou com Francesc Fàbregas e Edu Dracena apareceu para evitar que a bola retornasse ao craque argentino, cortando em escanteio. No minuto seguinte, o Santos ensaiou um momento condizente com aquilo que se esperava da equipe campeã da Libertadores: de Henrique para Ganso, de Ganso para Borges e de Borges para defesa de Victor Valdés. Valdés voltaria a fazer uma defesa no minuto posterior, aos vinte e sete, recolhendo em dois tempos o que parecia ser uma tentativa de cruzamento de Borges (mas a julgar pela falta de companheiros na área adversária, talvez tenha sido um chute ao gol).

Organizado, bem postado, veloz, envolvente e algo mais, o Barcelona respondeu - se é que posso chamar de resposta, até porque em alguns momentos parecia só haver um time em campo. Aos vinte e oito minutos, Cesc Fàbregas apareceu livre e em posição legal na área oponente e finalizou mandando no poste direito. Aos trinta quem chutou foi Dani Alves, mas a bola passou à direita. O desenho do jogo era claro como um mais um são dois: se as coisas seguissem naquele rumo, sem maiores alterações, teríamos uma goleada histórica em plena decisão do Mundial de Clubes. Contundido, o lateral-direito Danilo deu lugar para o meio-campista Elano com meia hora de aula barcelonista.

Aos trinta e três, uma troca de passes envolvendo Xavi, Messi, Iniesta e Fàbregas bagunçou aquilo que muitos chamariam de defesa, mas o impedimento marcado parou o ataque. Só que nada nem ninguém pararia o terceiro gol, aos quarenta e quatro: uma avanlanche bicolor envolvendo Messi, Daniel Alves e Thiago terminou na conclusão de Cesc. Se nas palavras é difícil transmitir tamanha intensidade, tome vídeo-aula.


Pausa para o intervalo. E não demorou meio minuto para vermos que o segundo tempo de aula nos ajudaria a recordar a magia do primeiro: Cesc recuperou a bola às custas de Edu Dracena, passou para Messi, recebeu de volta e chutou. Rafael Cabral conseguiu fazer bonita defesa no canto esquerdo.

Com um minuto, o Santos chegou ao ataque: Borges recebeu de Ganso na direita, cruzou e Neymar cabeceou por cima. Tanto Borges era acompanhado de perto por Eric Abidal como Neymar era seguido por Daniel Alves, em mais uma mostra que atacar com freqüência combina com marcação bem realizada. Aliás, a impressionante disciplina tática dos comandados de "Pep" Guardiola no jogo sem bola também são um capítulo importante nessa aula de futebol ensinada pelo Barcelona: sem cometer sequer mais faltas que o adversário, o time catalão consegue dificultar a troca de passes oponente e rapidamente voltar a ter a bola consigo.

E a pressão voltou a se estabelecer. Aos seis, Messi arrancou escapando de Neymar e também de Durval, abriu na esquerda, Thiago Alcântara cruzou, Daniel Alves chegou de peixinho e a defesa santista quase marcou contra. Aos oito, Cesc acionou Messi com belo cruzamento, a fera argentina dominou e chutou, mas o goleiro Rafael conseguiu bloquear. O Santos tentou aos nove, com Borges, mas o chute foi bloqueado pela correta marcação do melhor time do mundo. Aos dez, tome Barça de volta ao ataque: Iniesta recebeu de Xavi, tabelou com Cesc Fàbregas e chutou cruzado, mandando à direita. Naquele mesmo minuto, Guardiola trocaria Piqué por Javier Mascherano.

O Santos teve boa chegada aos onze: Ganso deu ótimo passe para Neymar que, de frente pro gol, parou em bela defesa de Valdés. Com quinze minutos, Arouca iniciou contra-ataque que passou também por Léo, Neymar e Elano, sendo que a conclusão deste último foi desviada em escanteio.

Com o cronômetro indicando vinte minutos no segundo tempo, veio a informação de que naquele momento 73% do tempo da posse de bola era de um time só. Ou seja, praticamente 3 vezes mais que o time que assistia a aula.

Aos vinte e três, Messi surgiu de frente com Rafael com tamanha velocidade na jogada barcelonista que pode parecer que o camisa dez se teletransportou para aquele local onde se encontrava no momento em que foi marcado impedimento. Novo impedimento foi anotado aos vinte e seis minutos, com Messi recebendo de Iniesta e passando para Daniel. Aos trinta e dois, sem impedimento, quem interviu para evitar o que poderia ser mais um gol catalão foi o goleiro Rafael, cortando o passe que ia de Thiago para Cesc. Foi o último momento de Thiago Alcântara, que deu lugar para Pedro Rodríguez aos trinta e dois minutos - naquele mesmo instante, o Santos trocava Borges por Alan Kardec. Tudo isso sob um cenário onde o tempo de posse de bola estava em 72% pró-Barcelona e o placar em 3a0.

Um minuto depois de entrar em campo, Pedro acertou a trave direita santista, quase marcando o quarto. Se não saiu naquele chute, aconteceu dois minutos mais tarde: aos trinta e seis, um contra-ataque fulminante barcelonista teve passe de Daniel Alves para conclusão do melhor jogador do mundo, driblando o goleiro e mandando pra dentro. Um gran finale para uma grande atuação.


Perceba que no vídeo acima, enquanto o Barça celebrava o quarto gol, o treinador do Santos optava por trocar Paulo Henrique Ganso por Íbson. Aos trinta e nove minutos, o capitão Carles Puyol deu lugar para Andreu Fontás, defensor de vinte e dois anos. A goleada já estava consumada, o apito iria soar como aquele alarme que indica o final da aula, mas o Barcelona, insaciável, teria mais um ataque: aos quarenta e três, Dani - muito mais um ponta do que um lateral - tabelou com Pedro e chutou por cima da barra horizontal. Irmanov deu apenas um minuto de acréscimo. Um estraga-prazer, seria muito mais saboroso se tivéssemos mais tempo de jogo, digo, de aula. Mas a lição foi passada. Que todos tenham aprendido.

Encerro esse texto transcrevendo o que disseram Neymar e Walter Casagrande Júnior após o término do espetáculo.

"Hoje, aqui, aprendemos a jogar futebol" (Neymar)
"É o futebol arte que joga e que ganha. É só se espelhar nisso daí" (Casagrande)

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