quarta-feira, 16 de junho de 2010

Quando O 0a0 É Vitória, 1a0 É Chocolate

No apito, o árbitro da final da Liga dos Campeões da Europa, o inglês Howard Webb. De um lado, a atual campeã européia. De outro, a seleção que saiu da Copa do Mundo 2006 sem ser vazada uma única vez. Última partida pela primeira rodada da Copa do Mundo 2010. Estão aí os ingredientes que, temperados por um jogo de ataque contra defesa, deram o sabor da maior zebra até o momento na competição, na primeira derrota de um cabeça-de-chave nesse Mundial.

Nos mais de 90 minutos de confronto, a Espanha provou que tem grandes qualidades e, mesmo tendo sido surpreendida pela bem postada Suíça, que não teve vergonha de se defender - e fez isso muito bem -, acredito que ninguém ouse, a essa altura do campeonato, dizer que a seleção de Vicente del Bosque não meta medo. Talvez o que o jogo tenha proporcionado foi o receio de encarar os suíços, pois veja você: se mesmo com a Espanha jogando bem, usando 4 atacantes e trocando passes com grande competência, buscando espaços, se mesmo assim não conseguiu furar o bloqueio adversário, quem seria capaz desse feito?

Foram inúmeras as chances de gol criadas por uma seleção que fazia a bola rolar pelo gramado do estádio Moses Mabhida num festival de passes refinados. A primeira delas se deu aos 9 minutos de jogo, em tabelinha entre David Villa e David Silva: Silva devolveu de primeira para Villa que cortou Stephan Lichtsteiner mas foi abafado pela boa saída do goleiro Diego Benaglio.

Com 10 minutos de jogo, a posse de bola espanhola era de 78% do tempo. Aos 16', nova chance clara: David Silva recebeu e partiu pra finalização, dando um chute cruzado que foi agarrado por Benaglio. No minuto seguinte, Sérgio Ramos recebeu na direita, deu corte seco em Reto Ziegler e bateu de esquerda, para fora.

Na primeira tentativa em chute de fora da área, Andrés Iniesta parou em defesa segura de Benaglio, aos 20 minutos. Aos 23', Iniesta passou bonito para Gerard Piqué, que cortou a marcação adversária e quase fez gol idêntico ao que marcou no Camp Nou diante da Internazionale, mas a bola foi defendida por Benaglio, usando o joelho. No minuto seguinte, Howard Webb interpretou jogo perigoso em chute de Xavi Hernández, perto da área espanhola, quando Gokhan Inler abaixou a cabeça na dividida: o espanhol atingiu somente a bola. Na cobrança, Iker Casillas foi chamado a trabalhar e defendeu em dois tempos o chute de Ziegler.

Daí até o apito de intervalo, só deu Espanha: aos 29 minutos, Silva deu um bolão para Iniesta, que fintou Stéphane Grichting e foi derrubado: cartão amarelo no suíço e falta perigosa a favor dos espanhóis. A cobrança foi efetuada por Villa, que bateu forte e viu a bola desviar na barreira e sair.

4 minutos depois, Philippe Senderos, um gigante na marcação, saiu substituído por questões físicas e deu lugar a Steve von Bergen. Pode-se dizer que Senderos deu seu máximo em campo, chegando firme e reduzindo o espaço pelo seu setor, e sempre com entradas leais. Ainda aos 35 minutos, merece destaque o lindo chapéu aplicado por Iniesta no campo de defesa, numa bela jogada de efeito. A Espanha detinha 68% da posse de bola, e chegou mais uma vez aos 42 minutos: lançamento de Ramos para Villa, o atacante domina e acha Iniesta. O chute do camisa 6 acaba indo por cima do travessão. Aos 44', a última chance espanhola na primeira etapa: Villa recebeu na esquerda, fintou a marcação de von Bergen e tocou encobrindo Benaglio, mas ninguém apareceu para completar ao gol.

Os times voltaram para a segunda etapa e a tônica da partida seguia idêntica aos 45 minutos iniciais. Com 1 minuto, Xavi cobrou escanteio rasteiro e Xabi Alonso tentou o chute de primeira, isolando. 3 minutos depois, Xabi Alonso pegou a sobra de fora da área e o chute desviou na cabeça de Grichting. Aos 5', levantamento na área suíça e o goleiro Benaglio saltou para tirar uma bola que iria na cabeça de Ramos.

O jogo dava sinais de que sairia um gol a qualquer momento, como de fato saiu. O que poucos imaginavam é que quem balançaria as redes seria justamente a seleção da Suíça, até então afunilada no campo de defesa. Na marca de 6 minutos, Benaglio cobrou tiro-de-meta. A bola viajou e chegou em Eren Derdiyok, que dividiu com Casillas. Quiseram os deuses do futebol que a Jabulani sobrasse para Gelson Fernandes, que não desperdiçou a rara oportunidade mesmo com a chegada de Piqué, que cortou a testa no lance. Foi um duro golpe no grande volume de jogo espanhol.

Aos 9 minutos, chance do empate: Sérgio Ramos recebeu a redonda e tratou de cruzá-la na direção de Villa, mas Benaglio surgiu antes e evitou o cabeceio. Com 12', mais Espanha: Iniesta ajeitou para Villa chutar de primeira - Benaglio fez a defesa. O jogo muito se assemelhava à partida de volta da semifinal européia entre Barcelona e Internazionale, num autêntico ataque contra defesa. Não por acaso, muitos jogadores daquele Barcelona desfilavam seus talentos nesse jogo de hoje da Espanha.

Aos 13', Xavi cobrou escanteio, Ramos subiu e cabeceou por cima. No minuto seguinte, Villa recebeu, dividiu com o goleiro Benaglio e a zaga suíça afastou. Del Bosque fez duas trocas interessantes aos 16 minutos, tornando o time mais ofensivo: saíram Sergio Busquets e David Silva e entraram Fernando Torres e Jesús Navas.

Um minuto depois da dupla troca espanhola, Xavi passou para Villa, a bola sobrou para Iniesta que chutou colocado, com consciência, rente à trave esquerda de um Benaglio que, dessa vez, defendeu com os olhos. Naquela altura, as estatísticas da partida mostravam 14 chutes a gol de uma seleção contra 2 de outra.

Aos 22 minutos, algo raro: contra-ataque para a Espanha. David Villa passou para Torres, que chutou encobrindo Benaglio mas também o travessão. No minuto seguinte, outro fato raro: ataque perigoso da Suíça. Derdiyok cruzou para Blaise N'Kufo, marcado de perto por Carles Puyol, cabecear para fora. Se passava mais um minuto e tome Espanha no ataque: Villa passou para Torres, que avançou com a bola e tentou o chute de três dedos, mas a finalização desviou em Grichting. Xavi cobrou o escanteio rasteiro e Xabi Alonso deu belo chute, de primeira, carimbando o travessão.

Na marca de 26 minutos, Navas recebe lançamento, se livra de Ziegler e chuta parando em defesa de Benaglio. 1 minuto depois, Ziegler levou cartão amarelo por entrada em Navas. A falta foi cobrada por Xavi, Sérgio Ramos cabeceou e Piqué completou, em impedimento, para defesa de Benaglio. O ataque seguinte foi suíço e quase terminou em gol: Derdiyok tabelou com Fernandes, colocou Puyol no chão e chutou com categoria, de pé esquerdo, acertando a trave. 3 minutos depois, a última troca na Fúria: Iniesta, que sentiu a coxa, por Pedro Eliézer Rodríguez Ledesma.

Era um 4-2-4 que mais parecia um 3-2-5, tamanha a presença de Piqué no setor de ataque. Isso sem se falar nas constantes subidas de Ramos e, um pouco menos, Joan Capdevila.

Aos 33', Navas chutou cruzado e a trave direita só não foi descascada pela bola pois a tinta não estava fresca. Ottmar Hitzfeld realizou sua segunda troca, tirando Derdiyok para colocar Hakan Yakin.

Aos 36 minutos, Tranquillo Barnetta carregou a bola, tinha duas opções de passe (Lichtsteiner avançava livre pela direita), mas decidiu arriscar de fora da área e a bola saiu por cima.

Aos 40', Navas recebeu de Piqué e chutou cruzado para defesa de Benaglio. 2 minutos depois, Navas cruzou a meia-altura para Fernando Torres, que acabou isolando.

Tão logo a arbitragem de Webb anunciou 5 minutos de acréscimo, Hitzfeld preparou a 3ª substituição: saiu Barnetta para entrada de Mario Eggimann. Antes disso, Benaglio era punido com o cartão amarelo sob interpretação de retardar a reposição da bola em jogo.

Aos 47 minutos, Xavi cobrou escanteio fechado e Benaglio afastou de soco. Com 48, Navas foi à linha-de-fundo, cruzou e Lichtsteiner afastou de peixinho - na seqüência, nova bola levantada e Yakin cortou com a mão. Xabi Alonso cobrou, a redonda desviou na barreira e sobrou para Villa, que da linha-de-fundo cruzou forte para trás - ninguém alcançou para concluir. Na marca de 50 minutos, escanteio para a Espanha: Ziegler afastou e Alonso não foi feliz ao pegar a sobra, na última chance da partida.

O comentarista Walter Casagrande Júnior, de uma emissora brasileira que detém os direitos de transmissão das partidas da Copa, soltou o seguinte após o apito final: "a mim não surpreende nada (em referência ao resultado). Tenho eterna desconfiança na Espanha" e ainda acrescentou que trata-se de uma seleção de "fragilidade emocional".

Frágil, na minha concepção, foi o comentário desse indivíduo. Se alguém teve a infelicidade de ligar a televisão naquele momento e ouvir esse comentário, está condenado a ter uma impressão equivocada do que foi a estréia espanhola na Copa do Mundo 2010. Bem como as pessoas que, baseadas restritamente na estatística de que a primeira rodada teve a menor média de gols da história das Copas, possam vir a crer que o "nível técnico esteja baixo". De forma alguma. Assista as partidas e acompanhe o blógui!

Nenhum comentário:

Postar um comentário